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O homem que superou a tetraplegia e uniu (ainda mais) o mountain bike brasileiro

  • 09/05/2017

A história de Ilsinho


A "Wings for live world run" é uma corrida que acontece simultaneamente em diferentes países em prol da luta contra as lesões na médula espinhal. A última edição foi nesse domingo (7), com a versão brasileira acontecendo em Brasília. Dentro das cinco mil pessoas que competiram na capital federal, é impossível não se emocionar com os cerca de 2km de caminhada de José Ilson, o Ilsinho, um competidor de mountain bike que foi diagnosticado com tetraplegia há menos de um ano.

A história de Ilsinho com a bicicleta começa ainda garoto, quando ele pedalava para entregar os jornais na pequena cidade mineira de Cambuí. A rotina de acordar cedo para trabalhar andando de bicicleta deu um preparo físico necessário para ele seguir o caminho das competições de mountain bike. Por anos seguidos, ficou entre os três melhores do Brasil.

 

O ACIDENTE: 40 minutos esquecido no meio da mata

Sua vida mudou completamente em 1º de julho de 2016. Ilsinho saiu para treinar sozinho em uma trilha que ele conhecia de cor e salteado. Acontece que, dois dias antes, haviam colocado uma cerca no meio do caminho. Sem saber da novidade, pedalando a 30km/h, Ilsinho se chocou brutalmente contra a cerca. Com o impacto, seu corpo foi arremessado e ele caiu no chão sem conseguir mover nenhuma parte de seu corpo, do pescoço para baixo. Paralisado!

Por sorte, um menino da região resolveu andar de moto na trilha assim que chegou da escola. Ele não pretendia ir tão longe, mas sua intuição o fez seguir mais adiante até encontrar Ilson, que se mantinha acordado graças a sua força mental e uma meditação feita através do barulho de um córrego que passava perto.

Do acidente até o hospital, que aconteceu por volta de meio dia, Ilson levou três horas. Senão fosse pelo menino da moto, ele poderia ter levado dias esquecido na mata.

Já no hospital, os médicos constataram que Ilsinho havia lesionado as vértebras C4 e C5 da coluna cervical configurando um quadro de tetraplegia. Este foi o diagnóstico dado: tetraplegia!

A agonizante temporada no hospital durou um mês e meio, entre UTI e cirurgias de até 13 horas. Em seguida, Ilsinho seguiu para sua casa, onde passou mais alguns meses com uma estrutura de home care, sempre com a certeza de que voltaria a andar. Meses depois, provaria que um laudo médico é um grão de areia diante de sua determinação.

- Passei a fazer incessantemente exercícios mentais de movimentação do meu corpo. Até que um dia movi o dedo do pé. Os médicos não acreditaram no que estavam vendo. Passei a fazer tratamentos intensivos no (hospital) Sarah Kubitschek, em Belo Horizonte. Vi que a mesma determinação que me ajudou a encarar todos os desafios como atleta seria fundamental em uma recuperação que era dada como totalmente improvável - diz Ilsinho, que está com 26 anos.

Ilson sabe o que é determinação. Perdeu seu contrato com uma equipe de mountain bike em 2013, mas seguiu treinando e competindo. Enquanto olhava adversários cheio de patrocínios, ele não abaixava a cabeça por competir de camisa branca. Se as empresas não se interessavam em investir em seu potencial, ele tinha a certeza de que o esporte era a razão de sua vida.

 

Ilsinho compete de camisa branca, sem patrocínio | Arquivo pessoal

 

UNIÃO DO MOUNTAIN BIKE BRASILEIRO

Seu acidente foi um choque grande para o mountain bike brasileiro, que já tinha um clima de parceria entre os competidores e ficou ainda mais unido após o ocorrido. O acidente de Ilsinho é considerado um marco para o esporte no país.

- A pista que eu treino (em Itaipava) fica no meio do mato. Se eu sofrer um acidente e estiver sozinho é capaz de ficar até três dias à espera de alguém que me encontre - diz Henrique Avancini, principal ícone do mountain bike brasileiro na atualidade. - O acidente do Ilsinho nos fez pensar melhor nas condições que nós, atletas, vivemos. O risco é enorme. E isso fez a gente se unir ainda mais. Foi um alerta grande para entender qual é a real condição e riscos que corremos no nosso esporte, que é também o nosso trabalho.

 

Ilsinho e Henrique Avancini na Wings life for run, em Brasília | Marcelo Maragni/Red Bull Content Pool
 

Ilsinho, mesmo sem patrocínio, sempre foi um grande entusiasta do esporte. Organiza há três anos, o Circuito Mantiqueira de Mountain Bike, na serra que leva o mesmo nome. Depois do acidente, este evento passou a ser uma fonte de renda ainda mais importante para o atleta.

O evento, no entanto, não é o suficiente para pagar as contas de Ilsinho. Numa prova de união dos atletas, foi criado um leilão para ajudar nas despesas com o tratamento. Henrique Avancini doou a camisa que competiu nos Jogos Olímpicos do Rio.

Ilsinho se emociona ao falar do acidente. A lágrima escorre pelo rosto ao saber que esse foi apenas mais um tombo - provavelmente, o maior deles - em sua vida. Mas provou a cada passo de sua caminhada no Wings for life, no último domingo (7), feita há menos de um ano do seu acidente, que qualquer laudo médico vira um grão de areia diante de sua determinação e paixão pela vida e pelo esporte.

Sua recuperação tão rápida não seria possível sem sua esposa, Thais Inara, com quem está junto há cinco anos (eles se casaram no último dia 28 de abril, com Ilsinho de pé no altar) e sua principal fonte de amor: sua filha Maria Alice, de três anos.

 

Thais e Ilsinho casaram-se em abril de 2017 | Arquivo pessoal
 

Ilsinho promete voltar a competir em alto nível. Para isso, se recusa a andar numa cadeira de rodas e faz um esforço descomunal para manter-se em pé tentando retomar sua rotina.

Não duvide que ele volte a disputar corridas ao lado de nomes como Avancini.

Por: Blog O Globo

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