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Ética e educação no pedal

  • 24/06/2020

As recorrentes reclamações de fazendeiros e de outros ciclistas e usuários das trilhas reaparecem em relação ao lixo e porteiras abertas em nossas trilhas, sendo que muitos fazendeiros já proibiram a passagem por suas propriedades e outros estão falando em proibir.


Para começar a falar deste assunto, primeiro é importante que tenhamos em mente que as estradas rurais podem ser de responsabilidade federal, estadual, municipal, particulares de servidão pública ou particulares privadas.

Se por um lado as estradas estatais sejam de responsabilidade dos órgãos do governo, por outro lado, as estradas particulares são propriedades privadas onde para se entrar, em vias de regra, é preciso de convite ou aprovação dos donos.

Uma estrada de servidão pública, é uma estrada que percorre mais de uma propriedade rural, e em comum acordo os donos dessas propriedades deixam suas porteiras abertas ou compartilham suas chaves de modo a garantir o livre acesso as propriedades rurais por seus donos caso esta seja a única forma de acesso viável, mas isso não significa que a estrada seja necessariamente pública e aberta a todos.

Para se transitar por uma estrada assim, em síntese você tem que ser um dos donos das propriedades, ou estar a convite do proprietário, coisas que raramente estamos.

Já as estradas particulares, estas ligam apenas a estrada ou servidão pública a uma propriedade apenas, ou, são estradas e caminhos que existem apenas dentro de uma única propriedade, e portanto, sua utilização não deixa margem de dúvidas para que se necessite de expressa autorização dos proprietários.

Agora que já expliquei os diferentes tipos de estradas que existem, vamos deixar claro que educação é algo que se traz de berço, e que deve ser usada em todos os lugares que frequenta.

Estar em uma estrada federal, estadual ou municipal, não lhe dá o direito de suja-la com seu lixo, pois apesar de muita gente parecer entender que o público seja algo de ninguém, na verdade, o bem público é algo de todos, e ninguém é obrigado a conviver com a sua imundice, e muito pior é quando se faz isso em terras e propriedades privadas, onde estar ali é um privilégio muito acima de qualquer direito.

O homem do campo retira da sua propriedade o seu sustento, e as muitas porteiras, mata-burros e cercas que encontramos pelo caminho, são fundamentais para separar seus animais de idades, donos ou lotes diferentes, e também para isolar suas plantações do ataque destes animais.

Quando um ser humano (que ainda vou chamar assim), deixa uma porteira aberta, ele está jogando dias, semanas, as vezes até meses de trabalho suado do fazendeiro no lixo, e isso talvez seja a pior forma de desrespeito que alguém possa ter para com o semelhante.

Você aí que me lê agora e que trabalha em seu escritório, consultório, oficina, comércio ou seja lá onde for, já imaginou se alguém que você nem conhece e que não convidou para entrar, entra no seu local de trabalho, bagunça sua mesa, joga as coisas de todas as suas gavetas no chão, mistura suas ferramentas e vai embora deixando a porta aberta?

Qual seria sua reação?

Pois é exatamente a mesma coisa que muitos “ciclistas” vem fazendo no local de trabalho dos fazendeiros.

Tenha respeito e cordialidade. Não interessa se está em ambiente público ou privado; ao cruzar com outra pessoa na trilha, seja ela ciclista ou não, um cumprimento de bom dia, um pedido para passar, um aceno de mão, um pedido antes de retirar uma fruta do pé ainda que estejam caindo aos montes da arvore, e todos os pequenos gestos de cordialidade e prova de boa educação, vão dizer muito sobre você, e você com sua bicicleta e roupas diferentes, querendo ou não, representa a imagem de toda uma classe de praticantes ainda que você nem os conheça.

Façamos por zelar do bom convivio e boa aceitação que os ciclistas sempre tiveram em todos os lugares que pedalamos, seja no asfalto, na cidade, na terra ou no campo; até porque, em um caso de acidente ou qualquer emergência, os homens do campo vizinhos as nossas trilhas, são geralmente o primeiro socorro a quem podemos recorrer, então até mesmo se para você a boa educação não lhe basta, para sua própria segurança, crie empatia e respeito por onde passar.

A regra é muito simples meus amigos, se levou alguma coisa para a trilha, leve de volta para sua casa, se cruzou com alguém, cumprimente, se pegou uma porteira fechada, passe e espere por todos os seus colegas de pedal, ou se não puder esperar, passe e feche novamente, e quem chegar depois que faça o mesmo. Quando o apressadinho que chega primeiro passa e deixa a porteira aberta esperando que os próximos fechem, não sabe se de fato o colega irá fechar, e quando os de trás chegam em uma porteira aberta, eles também não sabem se foi o ciclista da frente ou o proprietário do local que deixou assim, e na dúvida, pelo menos metade das chances é de errar na escolha.

Outro ponto que tenho visto acontecer ainda não em Araguari-MG de onde escrevo agora, mas em outros locais pelo Brasil, é de fazendeiros cobrando pelo acesso as suas terras ou cachoeiras, e embora cachoeiras e cursos d’agua em si sejam bens públicos, seu acesso é perfeitamente privado, e ninguém é obrigado a deixa-lo entrar em suas terras para visitar alguma atração pública que esteja lá dentro.

Se chegar em algum local cujo acesso seja cobrado, converse e negocie como em qualquer negócio, mas pague ou vá embora sem bater boca, ameaçar ou depredar nada de ninguém. Lembre-se novamente que estar ali é um privilégio, e não um direito, e se não quiser pagar para transitar dentro do bem privado dos outros, dê meia volta e vá procurar uma estrada pública para andar.

Geralmente as prefeituras possuem mapas atualizadas de estradas públicas que existem nos municípios, então procure se informar antes, para poder cobrar a coisa certa das pessoas certas.

No mais, bons pedais e muito respeito para todos nós.

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