Moradores de Jundiaí apoiam projeto após trabalho voluntário na África. 'Queremos passar que elas têm pés livres para fazerem história', diz mulher.
Por: G1.globo.com
Uma viagem inspiradora foi o primeiro passo para um casal de Jundiaí (SP) começar a apoiar um projeto que visa beneficiar crianças descendentes de quilombolas da comunidade Vão das Almas, no interior de Goiás, com bicicletas que servirão como meio de transporte para elas irem à escola. A iniciativa começou depois que a professora Luana Preterotti, de 23 anos, e o gerente de tecnologia da informação Rafael Eustachio, de 41 anos, fizeram um trabalho voluntário por quase um mês na África.
A paixão pela natureza e por seres humanos foi o que motivou Luana e Rafael a viajarem até a Tanzânia para trabalhar com crianças órfãs e vítimas de violência. Mais do que alimentos, materiais escolares e roupas, eles levaram uma nova perspectiva de vida para dois orfanatos locais que sobrevivem de doações. "Queríamos passar para essas crianças que elas têm os pés livres para escreverem a história delas. Que não precisam nascer e morrer na pobreza, além de incentivar os estudos", diz Luana.
O projeto do casal, batizado como Pés Livres, começou depois de um momento de reflexão. "Nós começamos a nos questionar sobre a razão de viajarmos. Já fomos à Bolívia, por exemplo, e aproveitamos o que havia de mais belo no lugar. Mas existe um contraste com a pobreza e o que tínhamos feito para ajudar? Então decidimos nos dedicar também ao voluntariado na próxima viagem", reflete.
Na volta ao Brasil, eles tiveram a ideia de dar novos rumos para o projeto. "Enquanto estamos no país, queremos apoiar projetos que já existem e funcionam", explica Luana. Por isso, eles aumentaram as vendas de produtos artesanais para arrecadar fundos que serão revertidos para beneficiar a comunidade Vão das Almas. O objetivo é fazer trabalho voluntário com as crianças, que já serão beneficiadas pelo "De Bike pra Escola", a partir de outubro.
Voluntariado na África
Luana e Rafael saíram de Jundiaí para ir até a Tanzânia em outubro do ano passado. Eles fizeram uma expedição no monte Kilimanjaro por seis dias com mochila nas costas e dormindo em barracas. Depois seguiram para a Kilimanjaro Children Foundation, na cidade de Moshi, onde passaram cerca de 15 dias dando aulas de inglês e matemática para crianças que ainda não frequentavam as escolas públicas. Eles também trabalharam na escola ligada ao orfanato.
Antes da viagem, eles venderam doces, canecas, camisetas, entre outros itens, aos amigos e familiares que também queriam participar de alguma forma do projeto Pés Livres. Com o dinheiro arrecadado em quatro meses, os dois compraram comida e roupas novas e nos tamanhos certos para as crianças.
"Eu me dediquei a tarefas braçais e de ajuda com a infraestrutura, como consertar os balanços que estavam estragados na escola, consertar as camas das crianças que estavam com cupins e cozinhei. A Lu já se dedicou a tarefas mais ligadas diretamente às crianças, como ajudar nas aulas do orfanato, a cozinhar, a arrumar coisas e consertar livros", conta Rafael.
Levar alegria
Além de muita boa vontade e valorização da palavra "passos", o casal levou na bagagem dois personagens criados por eles: os palhaços Cazé e Tatá. As mais de 280 crianças da escola, com idade entre 4 e 7 anos, puderam assistir números de mágica e participar de brincadeiras. Luana e Rafael também estiveram no Global Vision Orphanage por 15 dias. Lá moram cerca de 40 crianças, sendo que cinco delas tem o vírus do HIV e ainda não recebiam nenhum tipo de tratamento.
"Foi bem emocionante, porque a gente não sabia muito bem o que ia encontrar. Sempre tive desejo de fazer trabalho voluntário com crianças e o Rafael abraçou a causa. A prática, a vivência é muito intensa. Você vê muitas coisas que você não quer ver. Por outro lado, a generosidade que as pessoas têm umas com as outras, mesmo na pobreza, com o pouco que elas têm é impressionante. Estão sempre sorrindo, inclusive as crianças. É uma felicidade que você se pergunta da onde vem porque não vem do material", destaca Luana.
Se depender do casal, a dupla de palhaços não deve parar de levar alegria e solidariedade para quem precisa de ajuda. "Nossa missão é fazer a diferença por onde passarmos. Seja aqui no Brasil, do lado de casa, seja na África, a alguns milhares de quilômetros do nosso conforto", finaliza o casal.
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