Muito se sabe sobre os benefícios da atividade física, mas será que quando praticada em São Paulo – quarta cidade mais poluída do Brasil e parte das 25% mais poluídas no mundo (268° lugar) – esses benefícios se mantêm?
Muito se sabe sobre os benefícios da atividade física, mas será que quando praticada em São Paulo – quarta cidade mais poluída do Brasil e parte das 25% mais poluídas no mundo (268° lugar) – esses benefícios se mantêm? O Projeto Pedal, desenvolvido pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), procura responder a essa pergunta.
Por um lado, sabe-se que a prática regular de exercícios físicos reduz o risco de doenças cardiovasculares, obesidade e diabetes, aumentando a expectativa de vida em cerca de dez anos. Porém, são bastante sedimentadas as evidências dos efeitos maléficos da exposição à poluição atmosférica, “responsável por mais de 3 milhões de mortes ao ano no mundo, sobretudo por doenças cardiovasculares, respiratórias e neoplásicas”, ressalta o doutor Gustavo Faibischew Prado, coordenador executivo e investigador principal do projeto. “É exatamente nesta interação entre o exercício e a exposição à poluição atmosférica que residem as maiores dúvidas: qual efeito prevalecerá?”, aponta o médico.
CONCEPÇÃO DO PROJETO
Uma vez que o esforço físico aumenta a demanda metabólica em cerca de cinco vezes – exigindo um incremento das taxas ventilatórias, ou seja, da quantidade de ar “respirado” por minuto – há um inevitável aumento na carga de poluentes inalados. Sabe-se que algumas categorias da população são mais afetadas pela inalação de poluentes do que outras, como os portadores de doenças cardiovasculares e respiratórias. Além disso, alguns estudos demonstraram aumento do risco de desenvolvimento de eventos cardiovasculares agudos após atividade física sob exposição a altas concentrações de poluentes, embora nenhum deles tenha sido realizado no Brasil e sob condições reais. O foco da pesquisa, portanto, é descobrir se a prática de atividade física em ambientes com alta concentração de poluentes atmosféricos (material particulado, óxidos do nitrogênio, óxidos do enxofre, ozônio, entre outros) é benéfica para todas as pessoas.
A ideia do projeto se deu graças à popularização das bicicletas em São Paulo. Assim, o doutor Ubiratan de Paula Santos propôs que se delineasse um estudo para conhecer o perfil dos usuários (para transporte e lazer) na cidade. Dentre as etapas, deveria se mapear essa população – identificando trajetos, dificuldades, o perfil de saúde dos ciclistas – e registrar eventuais ocorrências que pudessem acontecer no cotidiano sobre duas rodas. O primeiro passo da pesquisa foi elaborar um breve questionário online, para se ter uma “fotografia” da população. Já a segunda etapa terá outros estudos, como um registro prospectivo de acidentes, a medição da concentração de poluentes nas vias mais utilizadas (comparando-se a alternativas potencialmente menos poluídas) e a avaliação física (cardiovascular, respiratória e metabólica) de ciclistas sob diferentes condições ambientais.
Relevância e obstáculos Nas primeiras três semanas, mais de 800 voluntários responderam ao questionário. A popularidade, porém, não surpreende o doutor Prado: “Estamos num momento de mudança de pensamento coletivo. Se, por um lado, temos uma enxurrada diária de novos carros nas ruas, por outro temos a busca crescente por alternativas menos poluentes, mais saudáveis e mais rápidas”. Como resposta a essa demanda, algumas medidas estão sendo tomadas, como a criação de faixas de trânsito para bicicletas (ciclofaixas), a oferta de bicicletas para empréstimo e locação e também o aumento dos bicicletários.
Porém, o médico aponta que ainda há muitos obstáculos. “Nossa cidade tem uma topografia bastante acidentada, ruas e avenidas disputadas por carros, ônibus, motocicletas e caminhões, poucas ciclovias e uma cultura ainda jovem de que a bicicleta pode ser um meio de transporte”. E complementa: “precisamos assimilar novas noções de convivência e um novo entendimento do trânsito. Não se trata mais de uma disputa pelo tempo e espaço das ruas. Devemos amadurecer como motoristas, como pedestres e como ciclistas”.
Quanto à importância do estudo, Prado ressalta que os pesquisadores precisam ser sensíveis ao ambiente e à comunidade em que vivem, pois as pesquisas não servem apenas para esclarecer lacunas do conhecimento científico. No caso do Projeto Pedal, “serve também para instrumentalizar gestores públicos no planejamento da ampliação da malha cicloviária da cidade”, melhorando a saúde da população e a logística dos transportes.
Por: Jornal do Campus USP
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