A bicicleta é um veículo agradável e eficiente não apenas para ir até a padaria da esquina, mas também para cruzar um continente – o que é demonstrado por uma quantidade crescente de aventureiros....
Entretanto, não é preciso realizar uma viagem de grande fôlego para sentir-se ou ser considerado um cicloturista – quem fizer um passeio de algumas horas com o objetivo de conhecer ou visitar outros lugares por puro prazer usando a bicicleta não terá cassada sua carteirinha de cicloturista.
Entre esses dois extremos, o cicloturismo é uma prática bastante diversa que alcança cada vez mais cidades do nosso país. O diferencial do cicloturismo é que enquanto poucas cidades possuem atrativos para os interesses turísticos convencionais, quase todas possuem atrativos aos cicloturistas, e isso por um motivo essencial: enquanto o turista “comum” geralmente procura um destino, o cicloturista se interessa, em maior medida, pelo trajeto. Por exemplo, é menos frustrante para o cicloturista interromper sua viagem antes do final programado do que para quem utiliza outro meio de transporte, porque o trecho percorrido foi todo ele vivenciado.
Mas não apenas por isso. O cicloturista, em geral, está fugindo da aglomeração humana, da saturação do concreto e dos cenários artificialmente montados – em alguns casos, montados como chamarizes. O cicloturista valoriza a diversidade e a originalidade dos lugares e com eles busca interagir – o que pode fazer mais minuciosamente do que de carro e mais rapidamente do que a pé. E, neste sentido, o pedalante e seu veículo, por não agredi-la, tornam-se uma parte da paisagem.
Isso não tira o valor do cicloturismo até em megalópoles: percorrer a cidade para visitar seus monumentos, para conhecer suas às vezes escondidas belezas, acessar suas diferenças culturais. Mas ainda será preciso muita evolução para que as urbes brasileiras permitam ampliar esta modalidade de interação e criem o interesse de turistas, ali chegados por meios motorizados, a se aventurarem (diga-se: a se arriscarem) sobre uma bicicleta, o que é plenamente possível (e até, diga-se: imperdível) em cidades europeias.
Que dure um final de semana ou um mês, uma viagem cicloturística renova a disposição de seu praticante. Faz-lhe bem à mente, ao corpo e à moral. À mente porque traz alegria, sensação de superação, confiança em si próprio e admiração dos outros. Ao corpo porque cadencia a respiração, queima calorias, fortalece os músculos e aguça os sentidos.
E à moral? É nesse aspecto que o turismo com bicicleta mostra seus benefícios para a vida social e para o arranjo natural. O cicloturismo não é exclusivo neste aspecto, é óbvio, mas trata-se de uma modalidade de turismo não predatório: que não pesa sobre a natureza e não corrompe a cultura local.
A maior parte do turismo praticado no planeta se caracteriza pelo consumo de serviços e produtos, mesmo que esteja envolvida alguma paisagem. Nas relações humanas prevalecem o serviçalismo e os empregos temporários; e nas relações ecológicas impera o saque da matéria natural e o descarte de dejetos.
O cicloturismo faz bem para a consciência do seu praticante porque é sustentável. A concretização dessa sustentabilidade depende, é certo, de políticas (econômicas, sobretudo) que extrapolam o setor do turismo; e, mais certo ainda, ninguém vira santo ao sentar sobre uma bicicleta. Mas estamos querendo nos referir aqui à simbologia da bicicleta para a transformação social, simbologia esta que atrai pessoas que aspiram a um modelo de sociedade igualitário para seus membros e perdurável na natureza.
Também para o cicloturismo vale a conclusão a respeito da mobilidade urbana: não é possível um modelo de turismo segundo o qual todos viajam de carro. As rodovias ficam entupidas e as cidades destino ficam tão insuportáveis quanto as cidades origem.
Em suma, o cicloturismo contribui para tornar o mundo melhor. E o mínimo que deveríamos esperar seriam políticas públicas que tornassem mais fácil a vida daqueles que querem melhorar o mundo. Governo federal, estados e municípios deveriam ser os agentes indutores dessa vertente, para desafogar a demanda que já existe, mas que não se expande mais por causa das dificuldades impostas a seus praticantes – dificuldades estas que não diferem daquelas que os ciclistas enfrentam para ir à padaria da esquina.
Felizmente nem todos ficam só esperando. A sociedade civil organizada, e também exemplares empresas do setor, têm se mobilizado para difundir a prática entre as pessoas e para requerer incentivos públicos. ONGs, grupos de pedaladas, Bicicletadas e agências de cicloturismo promovem passeios longos e viagens cicloturísticas, mas também agem politicamente para estimular o setor.
Essa intervenção do cicloativismo é compreensível, não? Porque quanto mais pessoas aderem à bicicleta como modalidade de transporte urbano, mais crescerá a quantidade de cicloturistas. Ao mesmo tempo, quanto mais pessoas curtem viajar de bicicleta ocasionalmente, maior a quantidade delas que desejará utilizá-la também no cotidiano. E, para ambas as modalidades de melhorar o mundo, ainda há muito o que fazer.
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