Pedal pelas ilhas do Paraná e de São Paulo segue por centenas de quilômetros de praias isoladas
Por Alexandre Cappi
Injusta é a fama de que o Paraná não tem litoral. Embora o Estado registre a segunda menor extensão de praias do País, possui um dos cinco ecossistemas mais notáveis do globo terrestre. O roteiro de pedal a seguir inclui três ilhas no Paraná: Ilha do Mel, Ilha das Peças e Ilha do Superagui, além de mais duas ilhas no Estado de São Paulo: Cardoso e Comprida – esta última para ninguém botar defeito. Eu e um grupo de amigos antecipamos a compra das passagens de volta para capital saindo direto da Ilha Cumprida, o que nos garantia o retorno à capital sem nenhum imprevisto.
1° dia: São Paulo – Curitiba – Morretes – Ilha do Mel (48 km de pedal)
Ônibus saem do terminal rodoviário Tietê à meia-noite e chegam à rodoviária de Curitiba seis horas depois. A poucos metros do terminal, fica a estação ferroviária, onde você deve pegar o trem para Morretes. Nessa viagem, as bicicletas viajam mais confortáveis que seus donos, num vagão exclusivo para elas. A caminho do mar, a descida é coberta pela rica Mata Atlântica, que guarda uma das únicas partes intocadas da floresta original que ainda sobrevive no sul e sudeste do País. E o charme dessa viagem de três horas está justamente em descer a Serra do Mar curtindo a altura dos penhascos e das pontes férreas através da janela da locomotiva.
Em Morretes, prepare as magrelas e comece o pedal rumo à cidade de Paranaguá pelo acostamento da rodovia BR-227. Será perto do meio-dia e o calor pode chegar aos 40o C na beira do asfalto – portanto, use roupas leves e hidrate-se muito bem. Depois de 48 km de estrada, chega-se a Paranaguá, onde você se despede da civilização e embarca na balsa que cruza o mar até a ilha do Mel, numa travessia de menos de meia hora. As bikes viajam no teto do barco, reluzentes ao sol. Graças aos esforços de muitos, na ilha não entra veículo motorizado, e as magrelas são o melhor meio de transporte para percorrer suas praias.
Ilha do Mel
2° dia: Ilha do Mel – ilha das Peças – ilha de Superagui (25 km de pedal)
Depois do pernoite em uma das confortáveis pousadas da ilha, acorde cedo para pedalar rumo à ponta do Hospital, no extremo norte da ilha. O objetivo é pedalar o máximo que puder pela areia, já que a maré alta logo o espremerá contra a restinga do manguezal. Depois de 8 km, você alcançará a Fortaleza de N. Sra. dos Prazeres, construída em 1767 para proteger Paranaguá. Logo acima do Forte há uma trilha que leva até o mirante, de onde avista-se as outras ilhas inclusas no roteiro da expedição.
Depois do mirante, retorne à praia de Brasília pedalando por um caminho sinuoso, paralelo ao mar, chamado de “Trilha dos postes”. É bom chegar à praia até as 10 horas para pegar o barco rumo à ilha das Peças. Garanta sua passagem no cais, antes de começar o pedal do dia. A embarcação leva turistas para avistar os botos-cinza, espécie que vive bem em frente ao cais.
A partir desta travessia você pedalará por um Patrimônio Natural da Humanidade, formado pelas ilhas das Peças e de Superagui, ambas com mais de 21 mil hectares de área preservada. Siga por 12 km pedalando com vento a favor entre centenas de gaivotas que sobrevoam suas cabeças. No fim da praia, há um canal de 150 metros, do lado oposto da ilha. A única forma de atravessá-lo até a vila de Superagui, um bom local para o segundo pernoite, é um pescador te avistar da outra margem e te dar uma carona.
3° dia: Ilha do Superagui – Ilha do Cardoso (48 km de pedal)
Ilha do Superagui
A diferença entre os terrenos das duas ilhas é brutal. Ao contrário da ilha das Peças, a areia de Superagüi é fofa o bastante para perdermos o controle da bicicleta. São 4 km até um rio de mangue escuro, que só pode ser atravessado na maré baixa. Da outra margem, são 30 km numa praia totalmente deserta, em areia dura, até chegar à barra do Ararapira, divisa dos Estados do Paraná e São Paulo.
Superagui foi declarada Parque Nacional em 1989 e faz parte do complexo estuário formado por Cananéia, Iguape e Paranaguá. O Parque não é aberto ao público, mas seu entorno pode ser visitado em atividades de baixo impacto ambiental (como trekkings e pedaladas). Para atravessar a barra do Ararapira, basta que um pescador lhe aviste do outro lado da margem. O barco o deixará em uma cabana que serve comida caseira. A partir deste ponto são só mais 14 km de pedal até o vilarejo de Marujá, no Parque Estadual da Ilha do Cardoso. Quase 90% dos 140 km² da ilha são cobertos por Mata Atlântica costeira ainda virgem.
4° dia: Ilha do Cardoso – Cananéia – ilha Comprida – São Paulo
Pedal pela Praia Marujá
Marujá é um povoado simples e hospitaleiro. Apesar de não dispor de energia elétrica, a comunidade atrai uma porção cada vez maior de turistas à procura de sossego e balada. A boemia noturna estende-se até o alvorecer na praia, e o último dia de pedal pode vir acompanhado de uma indesejável companheira: a ressaca.
Pegue um barco para a cidade de Cananéia, numa viagem de três horas. De lá, faça a última travessia de balsa até a ilha Comprida. Pela frente, a maior extensão litorânea da expedição: 59 km de uma praia infinita. Na metade do caminho há algumas barracas de lanches, onde é aconselhável se hidratar por causa do sol forte. No fim do pedal, pegue o ônibus da InterSul com destino a Sampa.
O que levar
Dicas
(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de maio de 2007 e atualizada em janeiro de 2019)
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