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O que não fazer na hora de calcular sua rota para uma cicloviagem

  • 10/03/2016

Viver é errar! E poucos cursos, livros ou professores me ensinaram tanto quanto os meus próprios erros. Em uma cicloviagem, isso não foi diferente...


Por: Espaços Invisíveis

Viver é errar! E poucos cursos, livros ou professores me ensinaram tanto quanto os meus próprios erros. Em uma cicloviagem, isso não foi diferente, e só posso dizer que viajar de bicicleta é um eterno aprender… errando! Pelo menos é o que posso dizer da minha nada vasta experiência.

Já faz tempo que queria escrever um post aqui para o blog falando dos meus maiores erros em cicloviagens, que nossa! Foram muitos! Então eu comecei a escrever o post e ele foi ficando tão grande, mas tão grande, que precisei dividi-lo em mais posts, que fazem parte dessa nova série aqui do blog a qual chamei “Erros de planejamento de uma cicloviagem”.

Se você chegou no blog agora e quer acompanhá-los, é só ir na nuvem de tags, no início, e procurar “Erros de planejamento” que o próprio blog te dará todos os posts onde falo sobre isso. Se você nos acompanha já faz um tempo, nas próximas semanas tem post atrás de post para você ver que você não foi o único que fez um monte de besteiras com uma bicicleta e uma ideia estapafúrdia de viagem na cabeça.

Bora errar e rir juntos? Porque não basta errar, também é preciso saber rir dos nossos erros e seguir feliz nessa vida!

 

1. Como se planejar calculando errado a sua rota de viagem


Já contei por aqui que quando eu decidi viajar 1500 quilômetros em um mês, meu planejamento se resumiu a baixar uma rota de GPS e dividir o total da quilometragem pelo número de dias que eu tinha para viajar. Traduzindo isso em números, meu planejamento era 1500 quilômetros/ 30 dias = 50 quilômetros por dia, uma distância que não me parecia nem um bicho de sete cabeças. Ou seja: tá tranquilo, tá favorável…

E, como na minha cabeça eu planejava pedalar na Europa e, na Europa, como vocês sabem, existem ciclovias para todos os lados e todo mundo pedala e blá, blá, blá… Então, no meu “maravilhoso mundo do planejamento”, tudo o que eu conseguia enxergar era aquela estrada de asfalto toda linda e lisa e sobre ela minha bicicleta sendo livre, leve e solta na gringolândia, percorrendo diária e tranquilamente 50 km.

Hoje, quando eu me lembro disso, naturalmente eu caio na risada, pois esse foi um dos piores erros de planejamento que eu já cometi na vida! Ou seja, se você quer viajar bem e com tranquilidade, nunca, JAMAIS, ever divida a quilometragem pelo número de dias e se coloque essa “meta” estapafúrdia de pedalar o resultado dessa conta louca.  E as razões para você não fazer isso são várias! Então, vamos a cada uma delas!

Cicloviajar é não prever o terreno que você vai pedalar

Se você já fez uma cicloviagem ou tem vontade de fazer, saiba que nem sempre é possível saber tudo sobre o terreno onde você vai pedalar. Às vezes, meus amigos, o asfalto acaba! E sim, isso também acontece na Europa!

Pedalar 50 quilômetros no asfalto liso,é muito diferente de pedalar 50 quilômetros no asfalto esburacado, que por sua vez é muito diferente de pedalar em uma estrada de terra, que por sua vez é muito diferente de pedalar em uma estrada de terra cheia de lama e pedra solta e por ai vai….

Isso significa que você pode demorar umas duas horas para pedalar cinquenta quilômetros em uma estrada de asfalto liso e um dia inteiro (ou até mais) para pedalar cinquenta quilômetros na lama.

Como boa parte das cicloviagens tem data para acabar, fazer um cronograma errado de quilometragem como esse é (e para mim também se tornou) um baita estresse.

Em termos de cicloviagem penso que vale mais curtir o caminho do que chegar, por isso, criar esse tipo de arapuca para você mesmo é a maior receita para estragar com a sua própria viagem.

Viajando em uma bicicleta a gente é vulnerável ao ambiente

A estrada pode ser linda, o asfalto pode ser liso como um bumbum de bebê… Mas você está no meio de uma tempestade. Ou sem saber, você está diante de um vento que sopra a 50km/h contra a sua bicicleta. Ou o sol e o calor estão insuportáveis e você precisa ir mais devagar se não quiser morrer desidratado de tanto suar… Bem vindo ao fascinante contato com a natureza, meu amigo ciclo viajante. Aqui todos nós somos vulneráveis a ela.

A vida na estrada é isso aí e diante da mãe natureza não temos controle algum. Por isso, precisamos aprender a respeitar nossos limites e os dela para não se colocar em riscos desnecessários. Muitas vezes, diante desses fenômenos da natureza precisamos parar ou diminuir a velocidade e isso deve fazer parte do planejamento.

Quando cheguei na região de Avignon, na França, dei de cara com um vento forte pra caramba chamado Mistral que me fazia pedalar contra uma parede invisível. Durante os dias que pedalei com esse vento contra, fiz muito, mais muito menos do que 50 quilômetros por dia. Conto um pouco mais sobre isso aqui.

Imprevistos mecânicos acontecem

Por mais que você tenha regulado sua bike antes de sair e feito uma boa revisão, os imprevistos mecânicos acontecem e, acredite, eles te atrasam. Pneus furados, raios que se partem, gancheiras que se quebram, sapatas de freio lançadas sabe-se lá onde… Em janeiro desse ano fiz uma cicloviagem para Castelhanos, uma praia muito linda aqui de Ilhabela. Na volta, a sapata de freio da roda da frente simplesmente sumiu na trilha, que era predominantemente de descida. Eu até tinha uma sapata reserva, mas acredite, eu não tinha aquele maldito ganchinho de metal para prendê-la, então tive que descer com a bike pesada controlando a velocidade no mínimo para não capotar. Acabei chegando à noite em casa, quase duas horas a mais do que o planejado e com dor nos punhos de tanto segurar o freio…  Se tivesse que cumprir uma quilometragem esse dia para completar meu percurso eu estava mais do que sem sapata, eu estava literalmente no chinelo…

A preguiça de pedalar aparece

Eu amo pedalar, pedalo todo dia. Mas dias pedalando por horas e horas, um belo dia ELA vem, pesada como sempre e senta lá no seu bagageiro. “Vamos descansar hoje?”É a preguiça de pedalar, uma senhorita que cedo ou tarde vai te visitar durante a sua cicloviagem. Vamos falar a verdade! A preguiça faz parte e às vezes não existe mal nenhum em tirar um dia para desfrutar. No meu planejamento inicial, como vocês podem ver, não existiam “dias de preguiça”, o que também não foi legal. Na verdade, eu achava que pedalar 50 quilômetros por dia seria tranquilo e poderia cumpri-los em meio dia, deixando a outra metade do dia para curtir. Mas não foi isso o que aconteceu e sem preguiça e sem descanso a gente começa a ficar um bocado irritado… Acredite, reserve uns dias de preguiça para você. Vai te fazer bem! E pedalar não é tudo nessa vida.

Nem só de pedal é feita uma ciclo viagem

Pois é né, gente? Pedalar é legal, mas conhecer lugares e pessoas também é um ótimo motivo para a gente cicloviajar. Por isso, não deixe de aproveitar aquilo que o caminho reserva para você! Deixe uns dias para curtir mais uma cidade ou ficar na casa de alguém com que se deu super bem.

 

2. Como fazer um bom planejamento de rota

Bom, agora que expliquei o porquê você não deve dividir o número de quilômetros pelo número de dias da sua viagem e sair por aí certo de que vai completar sua rota, você deve estar se perguntando: ok, mas como eu me planejo então?

Gosto de dar dicas e compartilhar minhas ideias aqui no Espaços Invisíveis, mas odeio a ideia de elas podem ser tomadas como verdades absolutas. Em termos de viagem, não acredito em receitas prontas. Por isso esse post é mais um daqueles que eu escrevo sobre coisas que funcionam para mim, mas podem ser que não funcionem para você. O legal, na minha opinião, é sempre que você encontre O SEU melhor jeito de viajar! Isso é o que vai tornar a sua viagem incrível. Assim, o que eu mais desejo é te dar motivação, antes de verdades absolutas…

Mas voltando ao planejamento, vamos lá. Pegando o próprio exemplo da minha viagem… Quando eu divido o número de dias de viagem pela quilometragem da minha rota, eu não tenho a quilometragem ideal do dia, eu tenho a quilometragem limite do dia. Penso que para viajar com tranquilidade, a nossa quilometragem ideal deve ser sempre menor do que a nossa quilometragem limite, caso contrario o cronograma conta com grandes chances de atrasar e a gente vai começar a se sentir pressionado para pedalar desgovernadamente.

Hoje quando eu me programo eu sempre procuro calcular a quilometragem total da rota, considerando uma quilometragem ideal com, no máximo, 30 quilômetros por dia.

Mas porque 30 quilômetros, como você faz essa conta louca? Na verdade não existe conta, mas o raciocínio é o seguinte: com uma quilometragem de 30 km/dia, caso e fique sem pedalar um dia, no dia seguinte tenho maiores chances de “saldar uma dívida” de 60 quilômetros que preciso fazer para completar o percurso. Já com uma quilometragem limite de 50 km/dia, sei que não farei 100 km com tanta tranquilidade no segundo dia, o que fatalmente vai fazer com que eu me sinta atrasada no cronograma e acabe trazendo uma dose de estresse desnecessária para a viagem.

Além disso, no total de dias da viagem, reservo 10% para descansar a aproveitar pessoas e lugares que aparecem pelo caminho.

A quilometragem ideal não é um número fechado, por isso você pode estabelecer aquele número que você considera razoável para você, que pode ser até 50 km, sem crise.

Eu curto fazer planejamentos e sempre fico pensando sobre a forma ideal de construir o meu. Por isso, eu cheguei à uma fórmula que para mim vem se revelando quase mágica que é:

Nº de dias / nº de quilômetros = quilometragem limite

Quilometragem ideal< quilometragem limite = X (no meu caso, até 30 km/dia)

Total de dias da viagem * 10% = dias de descanso

Rota da viagem ideal = quilômetro ideal*n.º de dias da viagem + dias de descanso

 

E pronto! A partir disso você pode até ter uma viagem mais curta, mas com certeza mais leve e sem estresse de ter que chegar!

Muita gente vai traçando a rota de acordo com a quilometragem de cidade em cidade. É uma boa forma de se calcular também, principalmente se você vai viajar contando com hospedagem e não com uma barraca. Esse método, no entanto, pode não ser muito válido para alguns locais onde a quilometragem entre uma cidade e outra às vezes ultrapassa 200 km…

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