Muitas características sui generis apontadas em pacientes com gagueira para justificar uma suposta causa psicológica para o distúrbio (como, por exemplo, o desaparecimento da gagueira enquanto a pessoa canta) encontram surpreendentes paralelos em outras condições de base neurológica.
O que acontece com a pessoa com gagueira quando ela está sob o estímulo da música é cientificamente chamado de “cinesia paradoxal”, fenômeno em que a fluência motora de alguém que possui algum distúrbio de controle do movimento torna-se subitamente normalizada, como se a pessoa não tivesse qualquer sintoma de sua dificuldade. Assim como na gagueira, cinesias paradoxais estão igualmente presentes em quase todos os distúrbios dos núcleos da base que afetam o ritmo e a suavidade dos movimentos, como, por exemplo, a doença de Parkinson, adistonia e a síndrome de Tourette.
Todas essas condições produzem paradoxos de normalização momentânea bastante similares aos verificados em pacientes com gagueira, fazendo-nos pensar sobre a possibilidade de que os bloqueios e repetições característicos da gagueira sejam também resultado de uma atividade anormal dos neurônios motores superiores do córtex cerebral na ausência do controle supervisor normalmente fornecido pelos núcleos da base.
Um dos exemplos mais impressionantes de cinesia paradoxal já documentados está no vídeo abaixo. Nele, vê-se um paciente impossibilitado de andar por causa da doença de Parkinson, mas que subitamente recupera a fluência dos movimentos quando anda de bicicleta. Ou seja, para este paciente, andar de bicicleta tem o mesmo efeito de normalização motora que a música teria sobre a fala de uma pessoa com gagueira.
Esse impressionante caso de cinesia paradoxal parkinsoniana — que serve também de esclarecedora metáfora para compreender o paradoxo da fluência no canto em pessoas com gagueira — foi publicado originalmente em abril de 2010 no NEJM.
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