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Cruzando a Bolívia de bicicleta

  • 31/03/2017

Três amigos de Itanhaém – SP, Marco A. O. Brandão, Aleksandro Stankevicius e Marcelo Iberê, do grupo Cicloturita – Cicloturismo Itanhaém, todo ano durante as férias, elaboram um roteiro, carregam as bicicletas e seguem para o que mais gostam de fazer: aventurar-se nas estradas de bike. Desta vez, o desafio deles foi cruzar a Bolívia sobre duas rodas.


Fonte: Revista Bicicleta por Marco A. O. Brandão

Em abril, partimos para La Paz, na Bolívia, para dar início ao nosso desafio de cruzar a Bolívia de bicicleta até San Pedro de Atacama. Fizemos a Carretera de La Muerte seguindo de norte a sul, com o objetivo de realizar nossas metas dentro dos 20 dias que tínhamos disponíveis. A altitude, temperaturas negativas e tipos de solo tornam este roteiro um dos mais difíceis da América do Sul.

Geograficamente, La Paz parece com uma panela fervilhando de gente e em suas ruas transitam turistas do mundo todo. O trânsito é tão tenso e caótico como o de qualquer metrópole. Aproveitamos para conhecer a Catedral São Francisco enquanto aclimatizávamos com a altitude. Aceitando o conselho dos locais, resolvemos experimentar o habitual “chá de coca”, bom para o estômago e para a altitude. Compramos algumas folhas de coca para serem mascadas com o mesmo propósito. Lembrando que a folha de coca em seu estado natural não é droga e é usada em toda a Bolívia por hábito e tradição. Ela está para os bolivianos assim como o chimarrão está para os gaúchos. Se é bom para a altitude? Sim, muito. Se é bom para o estômago? Sim, muito.

 

Algo que chama a atenção em La Paz e por toda a Bolívia são as “Cholas”, mulheres de tez séria e com ouro cravado nos dentes, que através de suas saias pregadas e coloridas até os pés sobre anáguas chamadas de “polleras”, blusas estampadas, xale colorido nas costas usado para carregar uma criança ou um fardo, longas tranças repartidas em duas partes escorrendo pelas costas abaixo e um irreverente chapéu, chamado de “chapéu-coco”, mantêm sua identidade indígena preservada. Estão em todas as regiões, despertam a curiosidade de qualquer forasteiro e estão intimamente ligadas ao comércio formal e informal de tecidos, artesanatos, plantas medicinais etc. E para tirar fotografias: “hay que pagar”.

Outra curiosidade que vale destacar são os fetos de lhamas, vendidos normalmente no Mercado das Bruxas. Custam $ 25 bolivianos e são usados para purificar o ambiente e afastar maus-olhados, segundo a crença das bruxas que os vendem. Ficam expostos pendurados e desidratados. As lhamas já nascidas custam mais caro. O ritual da “purificação” é feito queimando a lhama com carvão em um recipiente apropriado.

 

Carretera de La Muerte

A Carretera de La Muerte, também conhecida por Estrada Yungas, é uma viagem de cerca de 80 km de extensão, ligando a cidade de La Paz à região de Los Yungas, ao nordeste. É famosa por seu extremo perigo e pelo número de mortes em acidentes de trânsito: uma média de 209 acidentes e 96 pessoas mortas por ano. Em 1995, o Banco Interamericano de Desenvolvimento batizou-a como “Estrada mais Perigosa do Mundo”. Ela foi construída com trabalho escravo de prisioneiros paraguaios durante a Guerra do Chaco, em 1930. É uma das poucas rotas que ligam a Floresta Amazônica Boliviana, no norte, com a cidade de Paceña.

 A descida foi simplesmente incrível e emocionante. Depois de devidamente paramentados, partimos, deixando para trás a Maravilhosa vista de El Cumbre, e iniciamos uma descida alucinante pela primeira etapa que é de asfalto. A segunda parte é uma estreita estrada de terra que segue entre as montanhas e lembra muito a nossa vegetação.

Precipícios, abismos, curvas fechadas e perigosas compõem a Carretera, e as cruzes que seguem nas beiradas da estrada vão nos lembrando de que é realmente necessário manter a cautela e respeitar o local. Também passamos por várias cascatas que complementam a beleza dessa estrada selvagem. A temperatura, que era quase negativa na largada, aumentou consideravelmente próximo à cidade de Coroico. Também pudera, descemos muito: La Paz está a 3.660 metros de altitude, e Coroico está a apenas 80 metros de altitude.

 

Deixando La Paz para trás

Deixamos La Paz seguindo por El Alto, sentido Calamarca. Foi um trecho marcado por muito trânsito, subidas, fumaça de caminhão e acostamento ruim. De Calamarca a Oruro, passando por Patacamaya e Sica Sica, ainda é possível avistar por um longo trecho duas das maiores montanhas da Bolívia, com seus topos brancos de tanto gelo: Illimani e Huayna Potosi.

 Em Oruro, experimentamos um maravilhoso filet mignon de lhama, consumida normalmente como a carne de boi no Brasil. Seguimos ladeando o lago Popoó, conhecemos as termas da agradável cidade de Pazña, plantações de quinoa e criações de lhamas por toda a parte. A quinoa é uma planta nativa da Bolívia, Colômbia, Peru e Chile, que produz um grão considerado muito importante à alimentação e à vida do homem no altiplano andino. Neste ponto também começaram a aparecer povos indígenas perdidos no tempo, descendentes dos Incas, Aymaras e Quéchuas.

Decidimos seguir para Uyuni por estradas de terra, sentido Santiago de Huari. Nesta região, as pessoas são simples e humildes, e nos trataram muito bem. No pórtico de Huari conhecemos Lucio Rios, que pediu para tirar uma foto conosco. Ele trajava roupas muito simples, mas depois soubemos que ele é engenheiro de Los Condores; é ele que elabora e coloca as estátuas da ave Condor nos pórticos de toda a região até Colcha K. Ele nos deu ótimas dicas sobre o percurso e marcou pontos importantes em nosso mapa, especialmente orientações do Salar. Depois de 12 km da saída de Huari, iniciamos o trecho de terra e só veríamos asfalto muitos dias depois, no Chile.

Infindáveis plantações de quinoa marcaram o começo da estrada, cujo terreno foi todo bastante arenoso e cheio de “costelas de vaca”, aquelas valetinhas que provocam pula-pula o tempo todo, até Uyuni, 164 km à frente. Nesse caminho passamos por Kondo K e, desesperadamente, com medo de faltar água, conseguimos abastecer nossas caramanholas em um poço de uma família no pueblito de Pachata. Eu só enchi uma garrafa, pois estava atento às histórias desagradáveis de amigos que haviam consumido essa água na Bolívia. Meus amigos encheram todas as caramanholas e, dias depois, tiveram fortes náuseas, vômitos e desarranjos estomacais. Eles passariam os próximos dias pedalando na raça: guerreiros, esses meus parceiros.

Em Sevaruyo passamos uma noite em que fez muito frio. As bacias no quintal do alojamento amanheceram congeladas com as roupas dentro. Não havia água na descarga do banheiro e nas torneiras: tudo congelado.

 

Paisagens raras

Em Uyuni começou uma viagem ao mundo das paisagens mais incríveis e raras. A cidade está a 3.650 metros de altitude, é simples, pacata e turística, formada por uma população, em sua maioria, de origem quéchua. Encontramos turistas do mundo inteiro. É de Uyuni que partem os jipes 4x4 que fazem a travessia pelos desertos em direção ao Chile. Também é lá que está localizado o Salar de Uyuni, considerado a maior planície de sal da Terra, com 12 mil quilômetros quadrados de área.

Também conhecemos o Cemitério de Trens, composto de locomotivas antigas e enferrujadas pela ação do tempo e do sal, abandonadas em um canto deserto e descampado da cidade. Na verdade, elas são o que sobrou de uma época em que a Bolívia investiu alto na produção e escoamento de minérios, e com a crise na área da mineração, essas máquinas sobraram e o governo decidiu fazer um museu com esse material, deixando- os “guardados” nesse canto da cidade. O tempo passou, a ideia do museu não se concretizou e essas poderosas máquinas viraram sucatas expostas ao tempo. Chamou-me muito a atenção uma pichação que está em uma das locomotivas e inclusive é cartão postal da cidade: “Asi es la vida”...

Depois de conhecer o Cemitério de Trens, seguimos para Isla Incahuasi, a 100 km da cidade. Começava assim nossa travessia pelo Salar de Uyuni. Estávamos no ponto natural brilhante do planeta que pode ser visto do espaço. Passamos pelos atrativos turísticos Ojos Del Salar, que de acordo com a lenda Inca, são olhos do Salar que engoliam as caravanas. Na verdade, são buracos grandes na superfície de sal que possuem água borbulhando em seu interior. Em certas condições de luz são quase invisíveis e se tornaram realmente perigosos.

Também passamos pelo famoso Hotel de Sal, que como o próprio nome já sugere, é um hotel todo feito de sal. Hoje desativado, ele funciona apenas como museu onde estão expostas artesanias quéchuas esculpidas em blocos de sal.

Durante o percurso, enquanto você pensa que está em algum lugar perdido da Antártida, os cones de sal formados pelos extratores o fazem voltar para a realidade. O sal a ser extraído para consumo está 5 cm abaixo da primeira camada. Além do sal, Uyuni constitui também uma reserva de minerais como o lítio, usado em remédios e baterias, o potássio, boro, magnésio, carbonatos, enxofre e sulfatos de sódio. Esses minérios associados a algumas algas e às condições climáticas diferenciadas justificam as cores de algumas lagunas.

De longe avistávamos a Ilha Incahuasi, mas como no Salar a perspectiva engana demais, o que víamos nunca chegava. Se tem alguma coisa que treina a paciência do cicloturista é estar olhando para um ponto fixo que não chega nunca. À medida que nos aproximávamos da ilha, ficávamos maravilhados com o que víamos: ela cercada de sal por todos os lados, com cactos gigantescos por toda a sua extensão.

A Ilha Incahuasi, também chamada Isla Del Pescado, está a 3.656 metros de altitude, bem no coração do Salar. Seu nome, na língua quéchua, quer dizer “casa, abrigo dos Incas”. É um dos mais famosos pontos turísticos do Salar. Os cactos gigantes são os trichoreus, que chegam a ter 12 metros de altura. O local era o topo de um antigo vulcão que ficava em um lago pré-histórico, que ficava submerso. Pode-se percorrer toda a ilha através de trilhas demarcadas e quem tiver fôlego suficiente para chegar ao mirante poderá sentir a sensação de estar no topo do mundo. O ingresso para passear pela ilha custa $ 35 bolivianos. Conseguimos uma autorização para dormir na ilha, e na manhã seguinte fomos presenteados com um bolo pelo Sr. Alfredo, conhecido como Loco Alfredo, que reside na ilha há anos. Apenas ele e alguns guardas moram lá. É engraçado como as pessoas simpatizam conosco, brasileiros. Depois de uma noite em que fez nove graus negativos, assinamos o livro de visitantes do Sr. Alfredo – apenas ciclistas são convidados – e partimos para Ilha de Puerto Chuvica. 

Nosso destino já era visível, mesmo estando a 50 km de distância, mas a estrada na imensidão branca do Salar não podia ser vista, apenas algumas apagadas trilhas deixadas pelos jipes. Nosso caminho não seria em linha reta: nós teríamos que seguir a sudoeste e depois tornar a sul, fazendo uma espécie de “Z” para não chegar no destino pela parte pantanosa do Salar, onde as bicicletas não andariam de jeito nenhum. Seguimos os trilhos dos jipes, que por vezes se dividiam em mais caminhos, e a bússola foi nosso instrumento de navegação inseparável, juntamente com os mapas. Desde Uyuni já não havia nenhum tipo de comunicação com internet e telefone. Mesmo seguindo a orientação de fazer o percurso em “Z”, na parte final pegamos uma parte pantanosa e tivemos que empurrar as bicicletas por cerca de três quilômetros. Ah! E se você pensou em me perguntar se lambi o chão do Salar, a resposta é: “sim, claro! E é salgado”.

 

Em Puerto Chuvica, ficamos em um hotel frequentado pelos turistas dos jipes onde a única coisa que não é feita de sal são os pratos e talheres. Até o piso todo é de sal. Seguimos por Santiago de Chuvica, sempre subindo e encarando um descampado com muito vento, até chegarmos em Colcha K. Adentrávamos o pequeno povoado quando, de repente, ouvimos gritos com sotaque espanhol: “Marcelo, Marco, Stankevicius”. Ué! Como assim? No alto de um condor de concreto estava o engenheiro Lucio Rios, uma semana depois de termos nos encontrado. Fomos almoçar juntos e ele não imagina como ficamos felizes quando soubemos que ele já havia pago nosso almoço.

De Colcha K, contornamos os Cerros de Llipi e Karal até San Juan, a 4.164 metros de altitude. Nos abastecemos com muita água, pois dali em diante ela seria escassa, e resolvemos pedalar mais três quilômetros: convenci meus parceiros a dormir no Salar com -20°C, ao invés de acampar em um alojamento. Meu saco de dormir amanheceu congelado. Minhas garrafas dentro da barraca também. Na verdade, a única coisa que não estava congelada era o corpo, mas foi um sonho realizado dormir no Salar. Não nos importávamos mais com o frio extremo, pois estávamos vivendo em um mundo diferente e apreciando cada segundo da novidade. O Marcelo estava tremendo de frio e encantado porque a sua barraca tinha gelo por tudo. São experiências que ficarão para sempre na memória.

 

Levantamos acampamento e seguimos rumo a Laguna Hedionda. Nosso ponto de referência foi o Vulcão Ollagüe, com 5.869 metros de altitude. Trata-se de um vulcão ativo, localizado na fronteira entre a Bolívia e o Chile, mais precisamente na Segunda Região de Antofagasta, no Chile, e no Departamento de Potosí, na Bolívia. Possui uma cratera de 1.250 metros de diâmetro que fica exposta na parte sul, o que permite serem vistos rastros de lavas, além de duas fumarolas que podem ser vistas nitidamente, provenientes de gases de enxofre e vapor de água. Dormimos aos pés do vulcão. Extraordinário seria a palavra correta para descrever essa emoção?

Seguimos viagem passando pela Laguna Turquiri até o Valle das Rocas, um conjunto de rochas gigantes que se estendem por 10 km pelos dois lados da ruta, esculpidas pelo vento e cujos formatos são uma viagem para a imaginação. Também cortamos caminho por entre as montanhas, por trajetos formados por pedras pequenas e enormes. Se nossas bicicletas não fossem mountain bikes adaptadas, não resistiriam a tais condições. Depois de atravessar um rio de águas congelantes, chegamos a um povoado completamente abandonado, aos pés de uma gigantesca colina coberta de gelo, o Vulcão Corina. O cenário à noite parecia uma mistura de Residente Evil com Bruxa de Blair. Abrimos as trancas com o alicate e nos abrigamos no interior daquele acampamento abandonado, enorme e assustador. O barulho das telhas de zinco sopradas pelo vento batendo completou esse cenário de filme de terror.

 

Em direção à Laguna Hedionda, a 4.100 metros de altitude, mais subidas. Hedionda é a primeira de uma sequência de espetaculares e multicoloridas lagunas de sal, ainda mais incrível ao vê-las pontilhadas de flamingos. Pela Ruta de las Joys Altoandinas, nos encantamos com a beleza das demais lagunas: Honda, Chiar, Kkota e Ramaditas.

Depois das lagunas, inicia-se o Deserto de Siloli com suas areias douradas e cercado de picos nevados. Conforme a dificuldade do solo ia aumentando, os jipes procuravam novos caminhos, formando outros percursos e afofando ainda mais a terra. Pegamos orientação com os cocheros, os motoristas dos jipes, e depois de contornar um longo caminho de pedras, beirando um riacho que descongelava com o calor da manhã, no Caminho dos Incas, enfrentamos uma bela descida, porém, tão arenosa que as rodas afundavam.

Alguns quilômetros adiante, estávamos de frente para o Cierro Siete Colores, gigante e imponente. Aquele cerro confundia nossa vista com o que parecia mais uma pintura de aquarela em degradê do que uma montanha. Com muito esforço e sempre contornando as montanhas pela direita, avistamos uma espécie de lápide de concreto no meio do deserto que indicava um hostel a três quilômetros no caminho oposto. O Hostel Ojos de Perdiz deveria se chamar Oásis do Deserto.

Também nos abrigamos nas primeiras formações rochosas que surgiram em direção à Árvore de Pedra, o que não era nada comum naquele cenário desértico. Dormimos a 500 metros da primeira placa de boas-vindas à Reserva Nacional de Fauna Andina Eduardo Avaroa. A partir dali, a ruta parece se tornar principal, mas ainda existem muitos caminhos abertos pelos jipes e começam a aparecer algumas placas artesanais a cada três quilômetros em formato de árvore, indicando o atrativo da vez e, dentre todas as formações rochosas do local, a mais fotografada: a Arbol de Piedra no Deserto de Pedra, a 4.600 metros de altitude. Quando chegamos lá, fomos o atrativo junto com a árvore, pois os turistas queriam também tirar fotos com os “malucos do Brasil”. Foi divertido e inusitado, pois para eles parecia impossível alguém percorrer toda a extensão daqueles caminhos duríssimos em bicicleta.

Quatro quilômetros depois da Arbol de Piedra você se surpreende com outra pintura em aquarela maravilhosa: a visão da Laguna Colorada, porém, você só chega até ela depois de 18 km pedalando em um difícil areião. Para entrar na Reserva é preciso pagar $ 150 bolivianos no Posto de Controle. A Laguna Colorada é linda, composta por sal bórax e algas de pigmentação avermelhada, e conforme a posição do sol vai ficando cor de sangue. Enfeitada por vicunhas, lhamas e flamingos, riscada por uma barreira de sal que avança em uma de suas extremidades e protegida pelo Cerro Pavillon, é um lugar fascinante.

 

Foi difícil deixar aquela região, porque cada vez que olhávamos para o lago, sentíamos vontade de tirar mais fotos, e isso acontecia a cada 50 metros. Depois desse trecho, o que segue é mais um pouco de falso plano, e 15 km depois da Laguna, passamos pelo pequenino povoado de Huayllajara, sempre de frente para o imponente Cerro Pavillon.
Depois de muito subir, chegamos à região do Campo Geotermal. Não foi possível ver o Sol de La Mañana, pois esse é um atrativo que só é possível ser visto de madrugada, mas pudemos ver alguns gêiseres. Buscamos a ruta para as águas termales de Polques, depois de tirar uma foto a 5.485 metros de altitude. Pudemos ver o espetáculo da lua nascendo e em poucos minutos refletir sua beleza nas águas da Laguna Salada, outra laguna que visitamos no Salar de Chalviri, tão linda quanto as outras, apresentando uma cor meio cinza com verde devido à grande concentração de minerais que se estende por aproximadamente 6 km. 

Passamos ainda pelo solo arenoso do Deserto de Lípez, outro Cerro de Siete Colores, e pelo dourado Deserto de Dali, que tem esse nome em homenagem ao pintor espanhol Salvador Dalí, dado suas formas que se parecem com as pinturas surrealistas do pintor. Logo em seguida, passamos pelas Rocas de Dali, formações rochosas esculpidas pelo vento. Depois avistamos de longe o imponente Vulcão Licancabur, com 5.916 metros de altitude, considerado um vulcão semi-ativo. Aos pés do Licancabur descansa a Laguna Verde, com sua cor verde esmeralda, que em combinação com a visão do vulcão forma um cenário espetacular em formas e cores.

Ao nos despedirmos do encontro mágico com essa paisagem, logo estávamos em frente à Laguna Blanca, separada da Laguna Verde por apenas um pequeno corredor de terra. Logo em seguida alcançamos o posto fiscal que registra nossa saída da Reserva Eduardo Avaroa, e alguns quilômetros à frente estávamos na Aduana, seguindo por uma subidinha de sete quilômetros até o asfalto. Ah, o asfalto, que saudade! Mais dois quilômetros e estaríamos frente a frente com a incrível descida de 40 km que nos levaria à cidade de San Pedro de Atacama, a 2.400 metros de altitude. Uma descida alucinante pelo asfalto, entre curvas abertas e fechadas, deixando para trás a cadeia de montanhas que compreende a Cordilheira dos Andes enquanto a cidade se desenhava lá no fundo da paisagem, ficando cada vez mais nítida aos olhos, como que por encanto. Finalizamos nosso desafio na histórica, pitoresca e incrível cidade de San Pedro de Atacama, coração do Deserto de Atacama. “Y que les vaian bien chicos!”.

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