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Travessia Chile - Argentina

  • 31/03/2017

Começamos a nos preparar cerca de quatro meses antes, pela montagem das bicicletas. Montei uma bike para mim comprando peças pela internet. Acho que nesse ponto a Viviane ainda não estava totalmente convencida da viagem, mas com o passar do tempo a bike da Viviane foi totalmente reformada, colocamos suspensão, pintura nova, um trato nos freios e câmbio e acho que meu detalhismo na organização acabou convencendo-a...


Por: Maurício de Sousa jan/2003

Clube de Cicloturismo Brasil

 

Quando voltamos à São Paulo, dentre os muitos comentários que nos fizeram sobre a viagem, um foi mais engraçado: "Ah... vocês estavam treinados..".

Pois é, não, não estávamos treinados, e esta foi a nossa primeira cicloviagem...

Consideramos que isso serve para provar que o cicloturismo é sim uma maneira segura e diferente de viajar.

Sabíamos que o que íamos encontra pela frente não seria fácil, mas resolvemos ir mesmo assim, afinal, onde fica a aventura?

 

Começamos a nos preparar cerca de quatro meses antes, pela montagem das bicicletas. Montei uma bike para mim comprando peças pela internet. Acho que nesse ponto a Viviane ainda não estava totalmente convencida da viagem, mas com o passar do tempo a bike da Viviane foi totalmente reformada, colocamos suspensão, pintura nova, um trato nos freios e câmbio e acho que meu detalhismo na organização acabou convencendo-a. 

Na "Adventure Sports Fair" (que aconteceu em outubro na Bienal do Parque do Ibirapuera, em São Paulo) passamos por diversos stands de cicloturismo e de ciclismo e lá conseguimos valiosas informações, compramos o "Manual do Cicloturista de Primeira Viagem" e conversamos com gente da área que já havia pedalado na região do Chile e Argentina.

Neste meio tempo fomos atrás das passagens aéreas e do principal: o percurso da viagem. Usamos muito a internet para isto também, trocamos e-mails com muita gente...

O nosso agradecimento à todos eles! Elaboramos, a partir destas informações e da nossa experiência, listagens para montar os kits de ferramentas, peças sobressalentes para as bikes, o "kit gambiarra", o de primeiros socorros, roupas, alimentação, artigos para acampamento.

 

Quanto à preparação física, eu pedalava e a Viviane treinava na academia.

Acabamos decidindo o percurso da cicloviagem iniciando no Chile pela direção do vento nesta época do ano, que costuma ser bastante forte. Também porque não queríamos pegar estradas movimentadas. Alguns amigos nos alertaram sobre as estradas de ripio, bem diferente das estradas de terra que temos aqui.

Saímos de São Paulo de avião com destino à Santiago do Chile (com uma escala de 7 horas em Buenos Aires). Pelo nosso cronograma ficaríamos apenas uma noite em Santiago (véspera de Natal!). No dia de Natal conhecemos uma região montanhosa muito bonita que fica próxima à Santiago, chamada San José de Maipo. Ficamos um pouco arrependidos de não poder conhecer melhor a cidade de Santiago.

 

Com as passagens de ônibus compradas pela internet em mãos e duas malas enormes, enfrentamos um terminal de ônibus lotado e 15 horas de viagem rumo ao sul do Chile, na região dos lagos, mais especificamente até a cidade de Puerto Montt.

Cidade portuária, de onde saem as embarcações para Ushuaia e Terra do Fogo, em Puerto Montt encontramos tudo o que faltava para o início da pedalada: a "benzina blanca" para o fogareiro, um mapa da região (bom mapa, apesar de um pouco antigo), além de pão, salame, manteiga e chocolates.

 

Durante a viagem encontramos ótimas hospedagens, mas a de Puerto Montt foi inusitada, principalmente por causa da proprietária, a Sra Victoria, que nos abordou "sutilmente" no Terminal de ônibus, não menos insistente que qualquer vendedor ambulante de São Paulo.

Descobrimos na sua cozinha diversos cartazes com assinaturas de gente de todo o mundo, além de um fogão a lenha providencial para o friozinho que fazia. Durante um passeio pela cidade fomos ao correio enviar alguns postais e encontramos cinco ciclistas alemães, que estavam vindo de Ushuaia em direção à Santiago, e iam ficar alguns dias na cidade. Num Inglês tupiniquin trocamos algumas informações. 

Bicicletas montadas, alforjes carregados, partimos para nosso primeiro destino: a vila de Puelche.

 

No início não foi nada fácil a adaptação à bicicleta com o peso dos alforjes. Mais difícil ainda dominar a bicicleta num terreno como o ripio. Cinqüenta quilômetros depois - eu com os dois alforjes na minha bicicleta, e a Viviane rendendo um pouco mais na pedalada - chegamos a La Arena.

Cruzamos o estuário Reloncavi de balsa, com direito a ver leões marinhos e montamos acampamento em Puelche. Durante a travessia do estuário nos informaram que a estrada que liga Puelche à Puelo (nosso próximo trecho de pedalada) estava interditada pois havia queda de barreiras por causa das chuvas.

"De bicicleta vocês passam" disse o dono da lanchonete onde estávamos acampados. Lá fomos nós... contamos nove barreiras. Passamos por todas sem problemas, e por causa da estrada interditada havia pouco movimento.

A estrada era nova e ainda não estava "assentada", com muitas pedras soltas. Foi quando a Viviane entrou desatenta numa curva em declive, perdeu o controle e caiu. Ganhou dois rasgos perto do cotovelo direito e um joelho ralado.

 

Curativo feito, continuamos a pedalar. Paramos em uma casa para perguntar se faltava muito para Puelo. Responderam que ainda faltavam cerca de 10 Km e a dona da casa, vendo o curativo no braço da Viviane ofereceu ajuda, chamando uma picape para nos levar até um posto de saúde em Puelo.

Puelo é um lugar encantador, um vilarejo no meio das montanhas, fica depois de Cochamó para que vem de Puerto Montt pela estrada principal. Próximo a Cochamó existem enormes paredes de granito, prato cheio para escaladas big wall, onde existem vias de escaladas abertas por brasileiros.

 

Acabamos montando acampamento no quintal da casa da Laura, paramédica que estava de plantão e que nos atendeu. Café brasileiro com "galletitas" recém saídas do forno, música regional, conversa ao pé do fogão à lenha...

Foi uma noite muito agradável. Decidimos cumprir o nosso roteiro e chegar no dia seguinte à Ralún. Porém fomos de ônibus, pois o braço da Viviane ainda estava inchado e dolorido. 

Ficamos no camping das Termas de Ralún, a beira do Rio Petrohué e no dia seguinte, bicicleta na estrada, em direção à La Ensenada. O asfalto é bom e havia muito pouco movimento de carros e caminhões, neste dia a pedalada rendeu bastante, com pausas só para água e para um lanche com vista para o Vulcão Osorno.

 

Quase chegando em La Ensenada encontramos dois portugueses que estavam indo já naquele dia à Bariloche, também fazer o roteiro que cruza os lagos de catamarã.

Estavam bem contentes com a viagem e seguiam com as bikes bem mais leves que nós, pois não estavam levando comida nem material para camping. 

La Ensenada é um vilarejo turístico, fica na beira do Lago Llanquihue, de água gelada e praia de pedrinhas. Há vários restaurantes e todos contam com deliciosos frutos do mar no menu.

 

Há uma pequena agência de viagens, que oferece várias opções de passeios na região, desde rafting no rio Petrohué até a escalada ao Vulcão Osorno, com aluguel de equipo, transporte, lanche.

Só não fizemos porque ia doer no coração deixar U$ 180,00 por pessoa... Como nossa travessia de barco saía de Petrohué, seguimos para lá depois de pernoitar numa hospedagem (afinal ninguém é de ferro, é sempre bom um banho quente e cama!). 

Novamente um bom asfalto, paisagem linda, chegamos ao Nacional Vicente Perez Rosales, onde conhecemos os Saltos de Petrohué, local no qual o rio forma cachoeiras maravilhosas. 

Petrohué está na beira do Lago Todos Los Santos, tem um hotel e o camping da Conaf (Confederação Nacional de Áreas Florestais) numa margem e na outra os moradores alugam seu quintal também para camping. Chegamos no dia 31 e a balsa do Cruce Del Lagos só sairia dia 2, então acampamos do outro lado do lago.

 

O lugar é muito bonito, também com vista para o Osorno, porém com muito vento e os famosos Tábanos, mosquitos que parecem as nossas mutucas, só que um pouco maiores.

Nosso primeiro dia do ano foi de descanso, aproveitamos para lavar roupa e arrumar os alforjes. Chegaram duas brasileiras que estavam fazendo trekking e também vinham de Puerto Montt, onde também ficaram hospedadas na casa da Sra. Victória. 

O Cruce de Lagos é um passeio organizado por uma única agência de viagens, a Andina del Sur. Atravessam três lagos, o Lago Todos Los Santos, Lago Frias e Lago Nahuel Huapi, os dois últimos já na Argentina. O passeio completo, que inclui as balsas e o traslado de um lago a outro com micro-ônibus custa cerca de 130 dólares. Nós compramos apenas os trechos de balsa, 52 dólares para cada um. Vale a pena fazer o passeio, os lugares são lindos. Tivemos que desmontar as bicicletas para a primeira balsa, por questão de espaço.

 

De Petrohué à Peulla, são 1h30 de balsa, com vista para os Vulcões Osorno, Pontiagudo e para o Tronador. Seguindo viagem em direção à Bariloche passamos pela Imigração, por volta das 15h00, e sem condições de chegar ao outro lago no mesmo dia acampamos no posto do exército chileno (Carabineiros). 

No dia seguinte tivemos "adoráveis" 7 km de subida, praticamente empurrando a bicicleta, passamos pelo Passo Perez Rosalez, a 1022 m de altitude onde está a fronteira Chile-Argentina, e daí foram 4 km de descida até Puerto Frias.

Em Puerto Frias passamos pela Imigração e pela Aduana Argentina, onde nos fez falta a nota fiscal das bicicletas. Cruzamos o Lago Frias, com impressionantes paredões de pedra surgindo das margens. Mais 3 km de pedal até Puerto Blest, no qual pegamos a última balsa. Cruzamos o Lago Nahuel Huapi, 1hora e 40 com uma vista linda. O ponto final do Cruce de Lagos é Puerto Panuelo, próximo ao famoso Hotel Llao Llao, cartão postal do local.

 

Já era início da noite quando encontramos um telefone público e depois de diversos dias sem falar com a família, ligamos para casa e aproveitamos para comer uma pizza.

Bom, faltava realmente muito pouco para chegarmos em Bariloche, só 29 quilômetros bem asfaltados. Porém era tarde (22h) e ventava muito, resolvemos procurar um camping. Nos indicaram um albergue e pedalamos um pouco durante a noite, com as headlamps acesas e a atenção redobrada com os carros.

 

Por indicação do dono do albergue, no outro dia, fomos (a pé) até o Cerro Lopez. Com fácil acesso até a base - a estrada é asfaltada, com bastante movimento e com alguma sorte se consegue carona na ida e na volta.

O Cerro Lopez tem 2076 m de altitude e mais ou menos a 1600 m há um refúgio. A caminhada até o refúgio leva cerca de 3 horas por trilha, mas para quem tem um 4 x 4 há uma estrada de terra que chega até bem próximo do refúgio. Do alto é possível avistar vários lagos, a cidade de Bariloche e um grande trecho da cordilheira. A escalada até o cume levaria mais uma hora e meia, porém o tempo começou a virar e resolvemos não subir.

 

Seguimos viagem no dia seguinte para Bariloche. Este caminho, entre Puerto Pañuelo e Bariloche tem muitos carros e ônibus. Também há muitos restaurantes que servem Parrilla, talvez por este motivo seja tão movimentado. Encontramos muitos ciclistas e também cicloturistas na estrada. Um deles, Luiz, foi muito simpático e nos ajudou a encontrar um albergue na cidade.

Bariloche é uma cidade bonita, com suas duas ruas mais comerciais, o famoso Centro Cívico e o Lago Nahuel Huapi. Havia muito movimento no comércio até por volta das 22h pois escurecia tarde e as pessoas aproveitam para depois ir aos restaurantes. Vale a pena ficar um dia passeando só lá.

 

 
No centro da cidade encontra-se o Clube Andino Bariloche, de onde saem todos os finais de semana micro ônibus e vans que levam turistas até o setor Pampa Linda do Parque Nacional Nahuel Huapi, onde se encontra o Cerro Tronador.

Fizemos este passeio em um só dia, mas há opção de acampar em Pampa Linda ou no camping Los Rápidos que fica na estrada de acesso, uns 20 km antes.

Em Pampa Linda é obrigatório passar pelos Guarda Parques informando qual seu destino e tempo de permanência no local. Conhecemos o Ventisquero Negro, algumas cachoeiras e a Base do Cerro Tronador com direito à visão de uma avalanche. 

Depois de tantos passeios, hora de arrumar as malas. Como viajaríamos de ônibus para Buenos Aires e de lá direto para o Aeroporto, desmontamos as bikes e guardamos roupas e comida que não iríamos mais usar nas malas das bicicletas, para abrir só em São Paulo. Até Buenos Aires são 20 horas de viagem, por isso escolhemos ir de ônibus leito (com serviço de bordo e tudo!).

 

Uma noite no albergue do Argentina Hosteling Club e no dia seguinte rumo ao Aeroporto Ezeiza. O responsável pelo Albergue, conseguiu uma picape para nos transportar juntamente com as enormes malas ao Aeroporto, assim não precisamos pagar dois táxis como havíamos feito no dia anterior. 

Um vôo tranqüilo até São Paulo e jantamos uma picanha com a família para não perder o costume. Na cabeça o pensamento de onde faremos nossa próxima viagem de cicloturismo!!!!!



Agradecimentos: 
Alexandre Castro, Andy - Albergue Cordillera, Bruno - Schuler, Carlos Ferrandis, Cristiano - Águas do Sul, Felippe e Marcelo Elias, Gloria Valderrama, Gonzalo Puerta de Vera, Jaime e Juana Valderrama, Laura Velazques, Linda Vereertbrugghen, Maria Cristina Hartmann, Maurício "Tonto" Clauzet, Tasha Joss e todos os outros que nos ajudaram !!!

 

Mais informações no site:
http://geocities.yahoo.com.br/murfasclimb/travessia.htm

 
Maurício Moreira de Sousa - 
27 anos, Designer
Paulista, praticante de montanhismo, escalada em rocha, alta montanha, ciclismo e vela. [email protected]

Viviane Gilg da Silva - 
26 anos, Fonoaudióloga
Paulista, praticante de montanhismo, escalada em rocha e ciclismo. [email protected]

 

 

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