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Brasileiro roda o mundo em uma bicicleta de bambu

  • 11/09/2017

Ricardo Martins terminou de percorrer a África, primeiro continente da viagem em que observa desafios de mobilidade


Por onde passa, Dulcineia – duas rodas e corpinho de bambu – chama a atenção. “Onde quer que eu esteja, as pessoas sempre se aproximam primeiro da bicicleta e depois, por consequência, de mim”, conta Ricardo Martins, de 32 anos, dono da “Dulci”, como carinhosamente apelidou a “magrela” que o acompanha na maior aventura de sua vida: uma volta ao mundo pedalando. 

O brasileiro, que começou a viagem em 4 de abril do ano passado na Cidade do Cabo (África do Sul), terminou de atravessar o continente em agosto, depois de passar por sete países, cruzar o deserto do Saara até chegar ao Egito. Foram, ao todo, 14 mil quilômetros e 12 quilos perdidos.  

Formado em Ciências Sociais, Martins faz a viagem de olho em soluções de mobilidade urbana nos países por onde passa. “Entrevisto as pessoas do poder público e da sociedade civil em cada país, pelo menos nas capitais, para ver quais os problemas (de mobilidade) que encontram e as soluções.” 

Uma organização não-governamental ajudou a fazer os questionários e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) compila os dados. “Aproveitamos que ele está rodando o mundo para entender as diferentes políticas 'cicloinclusivas', que abraçam a bicicleta como ferramenta de transformação”, explica Juliana DeCastro, de 34 anos, doutoranda da universidade e uma dos três pesquisadores responsáveis por organizar as informações enviadas por Martins.

O grupo ainda ajuda o ciclista no mapeamento de organizações e entidades do governo que possam ser entrevistadas. E o roteiro dele pelos países acaba ajudando a conectar estes atores. “Como é um projeto de longo prazo, temos a possibilidade de construir uma rede muito interessante e de começar a pensar até em parcerias para pesquisas internacionais.”

Para Martins, os dilemas sociais das cidades interferem na mobilidade das pessoas. “Na África do Sul, a segurança pública é muito deficitária e não dá para incentivar as pessoas a andar de bicicleta porque elas não podem cruzar de uma área para outra, entre bairros negros e brancos, por exemplo.” 

Como em muitas regiões do Brasil, o viajante percebeu que a bike na África nem sempre é uma questão de escolha. “Em cidades muito pequenas, todo mundo usa bicicleta porque não existe outro meio. É muito comum na África que não exista transporte público nem transporte 24 horas até em cidades muito populosas, como Nairóbi (capital do Quênia). O carro vai tomando um espaço muito grande”, conta.  

Simplicidade. Confeccionada com bambu, a bicicleta de Martins é, mais do que meio de transporte, personagem simpático da aventura. “Se eu chegar com uma bicicleta de carbono, sinistra, cheia de suspensão, automaticamente viro o 'riquinho'. É como se eu chegasse em vilarejos isolados com uma Ferrari. Cria uma distância social muito grande. Mas o bambu aproxima, vira um quebra-gelo.”

Apesar de simples, a Dulcineia deu conta de extremos como a chuva na Etiópia e a secura do deserto, conta Martins. “Já quebrei roda, guidão, câmbio, mas o bambu segue intacto. Ela foi feita a mão, sob medida para mim. Foi projetada para uma volta ao mundo e se encaixa perfeitamente. É uma paixão para a vida inteira”. 

Com a bicicleta, Martins percorre cerca de 100 quilômetros por dia e leva com ele, em média, 50 quilos – “só o básico”, garante. A bagagem, acoplada à bike como dá, inclui roupas, barraca de camping, saco de dormir, equipamentos para cozinhar, algumas ferramentas para consertar a bicicleta e um celular, que usa para tirar foto, fazer vídeos e se comunicar com a família. “Tudo o que eu tinha, eu dei. Vou aprendendo a otimizar o espaço e precisar de cada vez menos. O peso diminui com o tempo.”

Pelos países africanos por onde passou, Martins preferiu dormir em vilarejos a hotéis – e não só para economizar. “Em vez de pagar 10 dólares em um quarto, posso ficar na casa de uma família e gastar 10 dólares fazendo um jantar para todo mundo. Assumo uma relação humana e não comercial. Isso muda muito a forma de absorver a viagem.” 

O ciclista não tem patrocínio, mas conta com a ajuda de apoiadores, que participam com pequenas quantias por mês. Com isso, consegue cerca de 300 dólares mensais para gastos com alimentação e vistos. Os apoiadores recebem, em troca, “souvenirs” nada convencionais, como mensagens carinhosas em vídeo de moradores de diversas partes do mundo. 

Também podem descobrir costumes das regiões, com a ajuda de Martins. “Fiquei uma semana com os maratonistas quenianos. Então, abri uma live (vídeo ao vivo) para os apoiadores perguntarem tudo: por que eles são os melhores do mundo, dieta e treinamento. Faço da viagem algo que vai além de mim, vira um desafio coletivo.”

 

Aventura. A família e os amigos – já calejados após uma viagem longa que Martins fez pela América do Sul – hoje lidam com mais tranquilidade com a aventura. “Tenho um acordo com a minha mãe de contar qualquer coisa que aconteça a ela. Às vezes eu digo de escabrosidades, super riscos, como cruzar a zona de guerra civil na África. Ela sempre sabe o que está acontecendo. Minha mãe virou mãe-de-viajante profissional. Pode ser consultora”, brinca. 

Para ele, apesar dos “perrengues”, ou por causa deles, a experiência no continente africano foi transformadora. “A África é outra coisa. Pega tudo o que você imagina, guarda e começa do zero. Aí ela começa a ser absolutamente mágica”. A tendência de generalizar a região pelo estereótipo da pobreza, segundo Martins, não faz sentido. “A cada país, as coisas mudam completamente. A África miserável é exceção e não regra. O normal é que ela seja absolutamente forte, pujante, cheia de alimento e com pessoas fortes e alegres.”

Agora, Martins e Dulcineia, que já recebeu merecidas mãos de verniz, vão descobrir os solos europeus. Em setembro, ele dará uma palestra na Alemanha pelo TED – grupo que organiza conferências sem fins lucrativos – sobre a experiência em duas rodas na África. Então, partirá pela Europa até chegar à Rússia no verão. A previsão é viajar pela Ásia, Oceania e voltar às Américas em cinco anos. Para depois, ainda não há planos. “Na África, me perguntavam: 'mas por que você está fazendo essa volta ao mundo?' E eu dizia: 'porque é meu sonho'. Não consigo imaginar um objetivo maior do que um sonho.”

Por: Estadão.com.br

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